Não me esqueço, de me esquecer.

Quis me esquecer de alguns sonhos,
Sonhos de tão sonhados, repetidos.

Enchiam-me de bolor, de teias,
Teias de aranha empanturrada,
Naquelas viagens sem infelicidades,
Ou tristezas, ou escuridões... 

[Não me esqueço, de me esquecer],

Mesmo no esquecimento propositado,
Quase como obrigação dos esquecimentos,
Limpezas na alma, limpezas da memória,
Aquele abraço, o beijo, o mar,
O mar naquele dia, o rio revoltado, o...

Teimavam sempre, impunham vontades,
Induziam nas repetições dolorosas, irreais,
Idas aos regressos, aos inicios, talvez (?).

[Não me esqueço, de me esquecer],

Toda a vida passava, passava pela noite,
Noite desassossegada, olhando sem olhar,
Árvores que baloiçavam, se abanavam,
Como se a vaidade lhes tocasse.

Na aura do infinito que me aparecia,
Sem som, sem imagem sequer,
Desprovido da palavra também,

Quis me esquecer de alguns sonhos,
Apenas adiei, adiei por mais uma noite,
Mais outra noite em desassossegos,

Afinal...

[Não me esqueço, de te esquecer].

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